Relato de Parto

Relato de Parto – Laís - A chegada da terceira flor do nosso jardim.

Por Mariana Silveira Miranda

Acordei na madrugada do dia 19/01/17 (por volta de 00:30) com dores leves e sabia que tudo já tinha começado. Foi o dia que completamos 40 semanas. E quando eram 07:00 avisei o meu marido que aquele era o grande dia de conhecer nossa terceira florzinha. Ele foi para o trabalho tranquilo (08:00), pois tudo estava só começando, mas voltou às pressas, pois liguei dizendo que, surpreendentemente, estava bem próximo! Contrações mais fortes, mais frequentes e de maior duração (09:00). Em 100% delas eu fazia agachamento, pois percebi que isso ajudava e muito a evolução do meu trabalho de parto, que já estava (bem!) ativo. A enfermeira obstetra já tinha sido avisada e estava a caminho da minha casa também com equipe. Vovô veio mais do que depressa buscar a criançada pra dar um passeio e dali em diante eu já estava na Partolândia, mas elas nem perceberam e também não souberam que estavam a poucos instantes de conhecer a irmãzinha. Esse foi o nosso plano: ficar em casa e ali no nosso cantinho tão sagrado ter a nossa filha. Tudo que havia preparado para o parto em casa permaneceu intacto num canto: a vela, o incenso, a luz azul, a playlist, os panos, o plano de parto... As dindinhas, que foram convidadas para o parto não chegaram a tempo, nem parte da equipe. A banheira (comprada especialmente para a ocasião) não pôde ser inflada completamente, pois a força espontânea já estava acontecendo na fase expulsiva e ainda precisava encher com água aquela banheira enorme. Então fomos para o chuveiro e ali, com meu marido-doulo ao lado me apoiando em todos os sentidos, após poucas forças, nossa princesa veio ao mundo (10:10) com seus 3,640 kg, sem choro, bem mansinha e feliz! Inacreditável! Mesmo após conhecer o parto natural e já ter vivenciado essa experiência maravilhosa, fiquei surpresa e encantada mais uma vez como a natureza é perfeita e sagrada! Como nosso corpo é especialmente arquitetado em cada detalhe para exercer o seu PRINCIPAL PAPEL. Que sensação maravilhosa, como a adrenalina é fascinante! Senti tudo outra vez e com a consciência corporal ainda mais apurada e intuitiva. O colo se abrindo, a descida dela, a passagem (que nem foi tão lenta assim), a chegada em meus braços, o olhar dela pra mim e o poder da minha voz pra ela. Mágico! Parece que mundo inteiro parou e aquele momento admirável ficou pra eternidade. Não dá pra explicar muito, mas o milagre da vida se deu da maneira mais fantástica e perfeita que já pude presenciar. Tudo no nosso aconchego, no nosso lar. Aqui está uma mulher realizada e sempre deslumbrada com o milagre da criação!

Depois de alguns minutinhos, dali do chuveiro levantamos juntas com o apoio do papai e com o cordão ainda nos conectando e fomos pra cama curtir um pouco mais a chegada. Conversei com ela. Ela me olhava, minha ficha caiu, chorei de felicidade plena. Agradeci minha vida, a vida dela, a natureza, a perfeição, à minha mãe, ao meu Deus. Adrenalina, adrenalina, adrenalina. Que choro feliz!!! Que energia linda! Mas não tem jeito de descrever, nem tentando muito! O cordão ainda pulsou bastante e Laís recebeu todo sangue que poderia ainda receber, além de muito ferro e imunidade. Mamou no meu peito e também viveu o momento dela de glória, pois estávamos pele a pele, com muito calor, cheiro, gosto, corações batendo e olho no olho. Quanta ocitocina! Era tudo que eu mais precisava e ela também. Impagável! Pro resto da vida ela terá essa alegria de viver, com toda segurança, tranquilidade e conforto que seus primeiros minutos de vida puderam transmitir e proporcionar. Sei que são minutos iniciais determinantes para toda paz e bem-estar que ela merece ter para crescer forte e feliz! E ela não precisou chorar. Não quis chorar. Quanta felicidade, mamãe! Bom, depois vieram os nossos protocolos: após o cordão parar de pulsar, papai cortou e a placenta nasceu (obrigada por tudo, minha rainha, do fundo do meu coração!), íntegra, linda, viva! Fui tomar um banho, mas ela não (também é um protocolo nosso. Adoramos o vérnix na pele dela, o melhor hidratante do mundo)! Então papai vestiu roupinha na Laís, comi um pouco, ligamos para o vovô voltar com as crianças e fomos lá pra sala COMEMORAR A VIDA com um brinde de champanhe com dindinhas, vovô, irmãzinhas, equipe... Depois que a festa acabou, pedimos no delivery uma barca japonesa pra comemorar de novo: agora somente papai, mamãe e Laís. Em casa. Sozinhos! Em paz! Rezamos juntos e continuamos agradecendo tantas dádivas!

Sei que a escolha do meu parto me faz ser incompreendida pela maioria das pessoas, o que não me importa muito. Para a minha essência, meus valores e princípios não há nenhuma experiência na vida que mostra tamanha força interior que possuo como num parto natural e pra mim é o que verdadeiramente importa. Penso (e lamento) como tantas mulheres podem passar a vida sem nem ao menos tentar vivenciar tamanha grandeza que a natureza nos oferece? Nada mais gratificante e intenso do que essa experiência e saímos dela tão realizadas, empoderadas, fortes, vencedoras, vividas, amadurecidas. Renasci! Sem falar como somos amadas e retribuídas pelos nossos amores (filhos e marido), que vivem junto com a gente cada etapa desse parto. Todos participam e fortalecem seus laços, estreitam a intimidade, também levam (inúmeros) benefícios! Todos ganham!

Curti o máximo que pude essa gravidez e me presenteei com tudo que tinha direito: meditação, yoga, academia, epi-no, floral, grupo de gestante, dança para gestante... Investi porque sabia que colheria resultados. Realmente colhi! Voltei pra mim (e pra ela), foquei meu corpo, minha saúde, bem-estar, serenidade, concentração, poder da mente, energia e tudo mais que não posso tocar, mas sim muito sentir e vivenciar. Acho que saí meio alternativa dessa experiência toda! Kkkk... Tenho certeza que nunca mais serei a mesma e a vida ganha outro sentido.

E sobre o Parto Domiciliar Planejado (PDP), posso dizer o seguinte: fiz o primeiro parto normal hospitalar com intervenções, o segundo parto natural hospitalar humanizado na banheira e já tinha tudo pra vivenciar o terceiro parto em casa. Não corro da dor e nem é do meu perfil fugir de grandes desafios ou obstáculos, prefiro enfrentar sempre e sair de lá mais forte e vivida. Tenho força de vontade e reconheço que não se deve ter pressa nesse processo todo, pois qualquer sacrifício vale a pena. O PDP respeita a fisiologia do parto e é feito sem intervenções. É feito sem frieza, sem protocolos, assinaturas ou papéis e formulários. Não teve maca desconfortável, nem perneira, nem ar condicionado, muito menos luz fria na cara ou cheiro de éter ou anestésicos. Não tinha pessoas estranhas ou mal humoradas ou apressadas, nem vírus ou bactéria hospitalar, nem infecções ou doenças. Nem tapinhas no bumbum pra neném chorar. Minha filha merece todo conforto possível ao sair do útero e disso eu não poderia abrir mão. Se trata de uma nova vidinha chegando na minha e todo respeito e conforto deve ser buscado pra ela sem poupar esforços.

Ainda há muita “desinformação” e muito “pré-conceito” (pessoas conceituam antes de conhecer realmente o PDP). Compreender ou julgar? Ter fé ou ter medo? Se ouvir ou se ignorar? Se elevar ou permanecer na zona de conforto? Fiz várias escolhas com responsabilidade e me respeitei em todas elas. Essa também é a minha essência. Que escolha feliz, eu nem poderia imaginar o quanto! Sei que alguns julgam que sou mente-aberta, corajosa e confiante. Mas também sou instruída, informada e planejada, por isso estudei muito esse parto antes de decidir. Uma decisão dessa não poderia ser impulsiva, jamais! Meu lado racional buscou as estatísticas, os dados, os riscos. Tudo que vi sobre esse parto era mais do que favorável, percebi nele muita segurança e nossa escolha foi que sim, que tranquilamente faria meu Parto Domiciliar Planejado. E para quem ainda continua perplexo, recomendo estudar sobre o tema, que é fascinante!

E quem já viveu um parto de amor não se enquadraria em outros moldes de partos, pois não fazem nenhum sentido. Não sou ativista (que sai nas ruas gritando em prol dá humanização do parto - não curto radicalismo), mas sei distinguir muito bem o que é melhor para mim, para meu corpo e para minha bebê. É a minha natureza, é a minha cultura, está na minha educação, está na minha família.

Minha lista de agradecimentos seria gigante e eu citaria aqui cada mulher que pariu em casa e demonstrou com seu exemplo o melhor caminho. Cada doula com quem conversei e me presenteou com ótimas recomendações. Ao Grupo BOM PARTO & Mulheres e gestantes, que me mostrou o caminho da felicidade! Por isso (praxe) volto aqui no grupo com meu relato, meu vídeo e minha disponibilidade para também disseminar essa sementinha. Ficarei muito feliz em contribuir com informações para que outras mães também façam suas escolhas conscientes e encontrem o caminho da felicidade. Foi através desse grupo que pude aprofundar ainda mais, pelos depoimentos que ouvi, evidências, bate-papo com profissionais do meio, etc. Participei de outros grupos também, palestras, conversei com pessoas que vivenciaram, ouvi relatos emocionantes, pesquisei médicos, troquei de médicos, assisti filmes, li pesquisas científicas e estudos feitos no Brasil e no mundo (só no nosso país que o PDP ainda “espanta”, mas é amplamente realizado nos EUA, Canadá, Austrália e em toda Europa). Meu verdadeiro agradecimento por toda fonte de informação que me levou até o PDP. Agradeço minha equipe que acompanhou meu pre-natal, turma nota 10! Deles e para eles, muito respeito!

Ao meu marido Ricardo Nunes Da Silva Miranda , que acreditou em mim e isso basta. Me mostrou o tempo todo que confia na minha força, minha capacidade, minha determinação, no meu corpo. Isso é reciprocidade, carinho, amor. Eu não faria essa escolha sozinha e ele sabe disso. Aliás, ele não só abriu meu olhar para o PDP, como também me incentivou muito! Juntos somos mais fortes sempre! Obrigada por ter ficado com as crianças toda vez que me ausentei por essa mega preparação para o parto. Nada disso seria possível se você não fosse esse paizão que é. Sempre conseguimos dar um jeitinho para estarmos juntos nas consultas, USG, grupo de gestantes (só a gente sabe como é difícil conciliar tudo + as crianças pra conseguir cumprir nossos compromissos) e isso me deixava muito feliz! Muito obrigada, sempre! Por tudo! Em agradecimento, te ofereço essa jóia preciosa que é nossa filha tão cheirosa, cor de rosa e cheia de saúde, além da experiência de tê-la amparado ao nascer. Sei o quanto isso tem valor pra você e por isso também essa escolha. Fizemos tudo juntos, no nosso ninho tão especial, na nossa casinha verde, exatamente como sonhamos e planejamos! Tem preço? 

Gabi, Clarinha, vocês viveram também essa experiência da gravidez de forma intensa com a mamãe e o que mais me impressionou foi o cuidado e carinho que tiveram comigo esse tempo todo. Acho que pelo belo exemplo do papai. Sei também que já entendem como a natureza é perfeita! Obrigada por existirem na minha vida, pois nesse momento, quando temos a responsabilidade de darmos o exemplo (aqui eu ensinava as delícias da maternidade), sempre buscamos desempenhar o nosso melhor e por vocês tudo vale a pena! Que fique em vocês os ensinamentos de uma gravidez como ela é, sem frescuras, linda, leve e vivida.

Laís, meu amor, obrigada por ter escolhido a nossa família. Obrigada por ter me escolhido como sua mãe. Quanta honra! Nossa missão fica ainda mais importante com a sua chegada e sei que você vai também ser muito feliz se integrando a nós. Que gravidez e parto lindos tivemos, não? Sensacional, filhota! Curti cada segundo com você aqui dentro e vamos curtir juntas intensamente tudo por toda nossa vida junto com nossa família! Te amo muito, infinitamente, minha pequena!!!

“Para mudar o mundo, primeiro é preciso mudar a forma de nascer” (Michel Odent)


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